DESCONHECIMENTO IMPEDE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

A falta de informação sobre o processo de doação de órgãos faz com que as pessoas não registrem, ainda em vida, seu desejo de ser doador e as famílias, em geral, negam a doação.


A doação de órgãos ainda é uma ação de muita resistência no Brasil. A Bahia possui a quarta maior fila de espera entre os demais estados, são 1.915 pessoas aguardando por um transplante. Desses pacientes, 1.058 esperam por córnea, 838 por rim, 15 por fígado e um por coração.

O principal obstáculo para os baianos é a recusa da família. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), no primeiro semestre de 2017, 62% dos 158 familiares abordados por equipes médicas na Bahia para doação de órgãos recusaram o pedido.

A doação é um gesto que pode salvar a vida de milhares de pacientes portadores de doenças terminais que estão na fila de espera para receber um transplante. Segundo o Ministério da Saúde, em 2016 foram feitas 24.958 doações, alta de 5% em relação a 2015. Já de janeiro até junho desse ano, a taxa de doadores efetivos aumentou 11,8%, de acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes.

Ainda assim é preciso continuar falando da doação de órgãos e reforçar as campanhas de incentivo feitas pelas instituições de saúde, pois a resistência da família em realizar a doação ainda é um obstáculo a ser ultrapassado.

Para a Dra. Priscila Rosa, neurologista do Hospital Agenor Paiva, vale ressaltar que “esse é um gesto que pode salvar vidas. É preciso que o paciente expresse sua vontade para a família e que a mesma, no momento da constatação da morte encefálica também expresse esse desejo. A resistência muitas vezes vem da falta de conhecimento do assunto por parte dos familiares, e essa falta acarreta um aumento na fila de transplante”.

Como ser um doador

A doação de órgãos entre pessoas vivas também é possível. A doação pode ser realizada entre parentes de até quarto grau e cônjuges. Este tipo de doação é possível apenas para os casos em que seja preciso a realização de transplante de um dos rins ou um dos pulmões, partes do fígado e medula óssea.

No caso da morte encefálica (cerebral), onde acontece a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro, o paciente também pode ser um doador, caso tenha manifestado o desejo para sua família ou se em sua constatação de morte os familiares queiram fazer a doação. Essa deve ser uma decisão tomada o mais breve possível, assim que o diagnóstico de morte encefálica for confirmado.

Os órgãos que podem ser doados são:

  • coração;
  • pulmão;
  • fígado;
  • rim;
  • intestino;
  • pâncreas.

Quanto aos tecidos podem:

  • córnea;
  • ossos;
  • pele;
  • válvulas cardíacas.

A Dra. Priscila Rosa explica que no Brasil só há restrição absoluta a doação de órgãos em pessoas com aids, doenças infecciosas ativas e câncer. “No entanto, indivíduos com alguma doença transmissível podem doar para pacientes que tenham o mesmo vírus, como no caso das hepatites”.

Como ser um receptor

Não é possível o paciente ou familiar escolher para quem os órgãos serão doados, estes serão encaminhados de acordo com a lista de espera. É necessário também que haja compatibilidade entre doador e receptor.

A compatibilidade é realizada através do sangue e antígenos, ou seja, das moléculas do corpo capazes de iniciar a resposta imune. Quanto maior a compatibilidade dos antígenos do doador e do receptor, mais altas são as chances de o procedimento ser bem-sucedido. Lembrando que quando um órgão é rejeitado pelo receptor, ele não pode ser destinado a um novo.

 

Cuidado médico

A possibilidade da doação de órgãos/tecidos será informada para a família por um membro da equipe médica assistente assim que o diagnóstico de morte encefálica for confirmado. Após a autorização da doação serão feitos exames de sangue para verificar as condições clínicas do paciente. Se a morte ocorrer em casa e a família desejar fazer uma doação, apenas poderá ser feita a doação de tecidos.