OS CASOS DE DIABETES CONTINUAM CRESCENDO NO BRASIL E A FALTA DE CONHECIMENTO É UM DOS MOTIVOS

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, hoje, no Brasil, há mais de 13 milhões de pessoas vivendo com diabetes, o que representa 6,9% da população. Mesmo assim, muitas pessoas ainda desconhecem a doença.


Você sabia que os casos de diabetes vem crescendo no país? Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, hoje, no Brasil, há mais de 13 milhões de pessoas vivendo com diabetes, o que representa 6,9% da população. Mesmo assim, muitas pessoas ainda desconhecem a doença e não sabem quais precauções devem ser tomadas. 

No mês Mundial da Diabetes conversamos com alguns de nossos médicos, a Cardiologista Dra. Daniele Gorjão (CRM 18342), o Angiologista Dr. João Nunes (CRM 10781) e a Oftalmologista Dra. Beatriz Guimarães (CRM 1269), para esclerer a patologia e alertar nossos pacientes e seus familiares como tratar a diabetes. 

 

Ponto de vista da Cardiologia

HAP: Dra Daniela, o que é diabetes e por quê estuda-lo? 

Dra. Daniela Gorjão: Diabetes é uma doença caracterizada pelo aumento anormal do açúcar no sangue. A glicose é a principal fonte de energia do organismo, porém, quando em excesso, pode trazer várias complicações à saúde, inclusive Infarto do Coração, mas também, Derrame Cerebral, Insuficiência Renal, Problemas Visuais e Lesões de difícil cicatrização, dentre outras. Atualmente, o diabetes é considerado problema de saúde pública devido ao elevado número de pessoas com a doença. 

HAP: O que leva a pessoa a ter diabetes?

Dra. Daniela Gorjão: Resumidamente, existem dois mecanismos: 1°) a falta do hormônio insulina; nesses casos, o pâncreas não produz insulina ou produz em pequena quantidade. Com a falta de insulina, a glicose não entra na célula, permanecendo na circulação sanguínea. É o diabetes tipo I; 2°) o mal funcionamento dos receptores das Células Beta, produtoras de insulina, que dificultam a entrada de glicose para o interior da célula, levando ao aumento de glicose no sangue. É a "Resistência à Insulina", que ocorre no diabetes tipo II.

HAP:  É verdade que o diabetes é mais comum nos obesos e sedentários?

Dra. Daniela Gorjão: Sim. O diabetes tipo II, que é mais comum acima dos 40 anos de idade, acomete mais os obesos, hipertensos e dislipidêmicos (com colesterol alto). Estes correspondem a 90 a 95% de todos os casos. 

HAP: O que sente uma pessoa que está com açúcar alto no sangue?

Dra. Daniela Gorjão: Ela pode referir aumento do volume urinário, muita sede, aumento da ingestão de líquidos, muita fome e perda de peso, fadiga ou nenhum sintoma. Muitas vezes os sintomas já são os das complicações crônicas da doença. 

HAP: E quais são essas complicações? 

Dra. Daniela Gorjão: O indivíduo pode apresentar com um infarto agudo do coração, com alterações na sensibilidade da pele principalmente nas mãos e nos pés, infecções locais, úlceras de difícil cicatrização e até com necessidade de amputação do membro. Aterosclerose, hipertensão, trombose na circulação sanguínea; infecção dentária; alterações visuais e outros;

HAP: Qual o tratamento? 

Dra. Daniela Gorjão: Antes de mais nada é importante que o paciente entenda a sua doença e saiba que os seus hábitos, principalmente de dieta e de atividades físicas, podem interferir na mesma. Então: 1° Conscientização e educação do paciente; 2° Manter a dieta adequada; 3° Ter uma vida ativa, fazer exercícios, evitar sedentarismo; 4° Usar medicamentos quando indicados pelo médico; 5° Fazer exames periódicos, principalmente de glicemia, e fazer visitas regulares ao seu médico. Para os profissionais da área de saúde que lidam com esses pacientes na emergência, nas UTIs, no ambulatório ou mesmo no ambiente familiar, é importante conhecer os sinais, tanto da hipoglicemia quanto da hiperglicemia, bem como as evidências de suas complicações para poder orientar o paciente para o tratamento adequado. Estes pacientes merecem tratamento multidisciplinar, que envolve acompanhamento médico, nutricional e de profissional de educação física.

 

Ponto de vista do Angiologista

HAP: O angiologista é o especialista que tem o foco de atuação no estudo das doenças dos vasos sanguíneos, veia e artérias. Dr. João, como o diabetes afeta a nossa circulação? 

Dr. João Nunes: O diabetes acelera a formação da aterosclerose nas artérias. A aterosclerose é o acumulo de gordura, inflamação e calcificação na parede dos vasos, até a sua obstrução. 

HAP: Fala-se tanto que o diabético tem que ter cuidado com os pés, principalmente os dedos. Isso é verdadeiro? 

Dr. João Nunes: Sim, isso é fundamental! O diabético tem uma maior facilidade para infecções devido ao seu sistema de defesa pouco eficaz. Os pés, pelo maior contato com o chão, estão mais sujeitos a ferimentos e micoses, por isso, devem ser bem secos após o banho, sempre protegidos com meias de algodão (trocadas diariamente) e sapatos. Os ferimentos devem ser acompanhados pelo angiologista.

HAP: Que sintomas devem chamar a atenção da pessoa que tem diabtes para uma possível alteração vascular? 

Dr. João Nunes: São vários! O melhor é que todo diabético tenha o seu angiologista de referência para, em caso de dúvida, consultá-lo.

HAP: É verdade que quem tem ou já teve algum entupimento nas artérias das pernas tem mais chance de ter doença coronariana (resultado da formação de placas de aterosclerose, que são placas de tecido fibroso e colesterol, que crescem e acumulam-se na parede dos vasos a ponto de dificultar ou mesmo impedir a passagem do sangue), quer dizer, mais risco de ter IAM (infarto agudo do miocárdio)? 

Dr. João Nunes: Sim, esta associação de entupimento nas pernas e ocorrência de infarto no coração é muilto alta. Estudamos mais de trezentos pacientes com este entupimento e observamos que 33% deles apresentavam também entupimento nos vasos do coração que levaria ao infarto. 

HAP: Quais são hoje os meios de diagnóstico e tratamento das doenças dos vasos sanguíneos?

Dr. João Nunes: Eu gostaria de dividir esta resposta no ponto de vista do paciente e do médico. Para o paciente sempre será a despeito de todos os avanços tecnológicos, uma boa consulta, aonde ele possa falar o que sente e ser examinado por um profissional em quem confia. Já para o médico posso destacar como método diagnóstico o Duplex Scan, um ultrassom que visualiza com nitidez todos os principais vasos. Como tratamento temos as cirurgias que fazem uma ponte com veia ou prótese (tubo de material sintético) ultrapassando o local obstruído e também balões e stents (telas metálicas) que desobstruem o vaso através de um cateter introduzido na virilha. 

 

Ponto de vista do Oftalmologista 

HAP: Dra. Beatriz, de que maneira a diabetes pode comprometer a visão? 

Dra. Beatriz Guimarães: O diabetes é uma doença que afeta os olhos de diversas formas. A retinopatia diabética é a maior causa de cegueira irreversível em todo o mundo e a doença retiniana acometerá cerca de 70% dos diabéticos após dez anos da doença, cerca de 90% após 20 anos e todos os pacientes após 30 anos quando descompensados; Estes percentuais se agravam quando associamos outras patologias, em especial a hipertensão e a insuficiência renal. É comum o paciente ter queixa de baixa acuidade visual quando a glicemia está elevada, isto ocorre independente de lesões em estruturas oculares, apenas a glicose determina um instrumento do cristalino e isto altera o grau do paciente e consequentemente sua visão, por isso o diabético ao fazer exame para prescrição de óculos deverá ter glicemia não superior a 140mg. Sem este cuidado sua prescrição poderá ficar comprometida. As cataratas são mais precoces, com evolução mais rápidas e mais frequentes no diabético em relação a população normal. O diabetes está entre os fatores de risco para o glaucoma primário e o glaucoma reovascular é complicação frequente na retinopatias proliferativas diabéticas. As tromboses venosas e arteriais de vasos da retina com perdas parciais totais da visão são mais frquentes nos diabéticos. O olho seco, as doenças inflamatórias e infecciosas de pálpebras e orbitas são muito frequentes e mais graves nos diabéticos, também são mais frequentes as paresias e paralisias dos nervos responsáveis pela motilidade ocular. 

HAP: A partir de quando o paciente diabético deverá procurar o oftalmologista?

Dra. Beatriz Guimarães: O primeiro exame oftalmológico deverá ser realizado no primeiro mês de vida quando será feito o teste do olhinho que consiste no exame externo ocular podendo detectar obstrução congênita do canal lacrimal; alterações corneanas que sugiram glaucoma congênito; conjuntivites neonatais; malformações congênitas palpebrais. O exame do fundo de olho deverá ser realizado para afastar catarata congênita devendo ser visualizado o reflexo vermelho retiniano. Nos pacientes prematuros, em especial nascidos abaixo de 2000g, ou mães com história de doenças infecciosas durante a gestação como rubéola e toxoplasmose deverão ser examinados com mapeamento de retina. A triagem do recém nascido é de fundamental importância na prevenção de cegueira. Infelizmente ainda vemos pais e profissionais de saúde que negligenciam exame de tamanha relevância. Após esse exame o paciente deverá retornar com 1 ou 2 anos quando deverá ser dilatado e afastado a possibilidade de graus elevados, em especial quando apenas um dos olhos tiver grau elevado e o outro for normal, o que poderá determinar perda de visão irreversível (ambliopia refracional), quando diagnosticado mais tarde. Também deverão ser examinados em qualquer idade se apresentarem estrabismo popularmente conhecido como "vesgo ou zarolho". Após este exame recomendamos exame na idade entre 5 a 6 anos, quando a acuidade visual determinem prejuízos ao aprendizado. Recomenda-se a partir daí exames a cada dois anos para os pacientes normais do ponto de vista oftalmológico. Os pacientes diabéticos deverão realizar exame de fundo do olho, de preferência a cada seis meses, em especial se estiverem descompensados. É de fundamental importância não esperar a baixa da visão. 

HAP: As alterações oftalmológicas podem aparecer sem manifestar algum sintoma? 

Dra. Beatriz Guimarães: Sim, o paciente pode ter lesões sem manifestar sintomas.

HAP: Que cuidados a pessoa deve ter para evitar o aparecimento das alterações visuais? E depois da manifestação do sintoma quais os cuidados a seguir?

Dra. Beatriz Guimarães: O paciente precisa estar bem consciente do risco que corre e que a única forma de prevenir lesões oculares e também todas as outras é se manter com glicemias normais, pois assim seu corpo estará mais próximo do normal; para isso é preciso de um acompanhamento clinico com o profissional capacitado para prescrê-lo adequadamente indicando insulinoterapia antes do agravo da doença, orientando-lhe sobre a necessidade dos exames preventivos e principalmente que o paciente siga restritamente suas orientações dietéticas e medicamentosas, pois em 15 anos de dedicação em consultório com dezenas de pacientes diabéticos não tenho nenhum paciente bem orientado e cuidadoso que tenha lesões visuais relevantes; e todos os que apresentam lesões, negligenciaram a doença por muito tempo! Uma vez com alterações visuais o paciente deverá imediatamente procurar o oftalmologista e o endocrinologista, pois nada poderá tratar as lesões se sua glicemia permanecer elevada; pois é ela a causa de todo tanstorno e só com seu controle poderemos ter sucesso terapêutico, e sem controlá-la rigorosamente outros agravos ocorrerão, e sua saúde visual estará fatalmente em risco. De acordo com a lesão apresentada será realizada terapêutica adequada, mas é importante frisar que poderemos ter lesões irreversíveis e que sua visão não poderá mais ser recuperada, por isso nos pacientes diabéticos a prevenção das lesões com o bom controle glicêmico é a melhor conduta! Diante de doença tão grave e devastadora para o paciente e sua família é preciso que o paciente saiba que uma vez diabético ele só tem duas opções: ingressar no time que ganha ou no time que perde desta doença ou seja, o time que combate ou o que negligencia o diabetes, e sempre convidá-lo para o time que ganha!